28 de nov. de 2013

O passado e o que ficou

“Passado é prisão que só nós mesmos podemos nos libertar” era o que Joaquina pensava naquela manhã ensolarada e transcrevia em seu diário “e assim como todas as prisões nós que escolhemos irmos para lá”.
Suspirou e fechou seu caderno pink. Estava tão arrependida. Não deveria tê-lo deixado escapar. Deveria ter entregado a carta antes e não se afogar na zona de conforto a qual está habituada. Sentimentos são complicados, mas mais complicado do que eles é o reencontro depois de um triângulo.
Se tivesse como escolher melhor... Ela não estaria aqui. Quis como nunca se tele transportar. Mentira, ela queria mesmo era voltar no tempo e ter feito as coisas diferentes. Odiava sentir que poderia ter feito mais e talvez a posição das pessoas fosse diferente. Odiava sentir que seu coração batia nas melodias de “When I was your man” e “Epitáfio”.
Toc, toc, toc.
- Jô, já está quase na hora. – a voz apreensiva de sua mãe preencheu o ambiente.
- Já desço. – ela disse se levantando vagarosamente.
Se pudesse voltar no tempo, voltaria apenas alguns minutos para desfazer o cabelo ruivo emaranhado. Teria tomado um banho e talvez feito as unhas roídas. Joaquina então colocou o vestido curto de seda vermelha que contrastava com sua pele cor de leite. Desfez os nós e prendeu o cabelo comprido em uma trança desarrumada. Brincos de pérola e um pouco de rímel. Suas típicas sapatilhas.
Estava pronta, mas não se sentia pronta. Mesmo assim, um tempo depois estava no gramado perfeito, sentada em um dos bancos rústicos de madeira.
Um Eduardo mais velho e com a barba por fazer esperava no altar. Joaquina odiava quando ele deixava a barba daquele jeito. Ele sorriu hesitante e ela lhe sorriu de volta. Edu se surpreendeu e o jeito como mexia nas mãos demonstrava seu nervosismo.
A marcha nupcial começou a tocar. Uma Amanda com sorriso até as orelhas, magérrima e com vestido branco entrou.
Naquele momento, Joaquina não sentira raiva ou rancor. Não depois de ter sentido de perto a áurea que os protegia tão intensamente. Não importava o show que ela tinha dado quando descobriu o que rolava entre os dois. Droga! Queria ter percebido isso antes de brigar com duas das pessoas mais importantes de sua vida.
Mas com um pesar percebeu que isso não era possível. Não em 2013. Com um pouco de raiva pensou nas palavras escritas de manhã. Eram partes tão diferentes de sim mesma que pareciam duas almas presas em um só corpo. Como uma adolescente que abrigava a criança e o adulto. Uma parte dela queria se enrolar no passado como se fosse seu edredom velho e nunca mais sair, a outra gritava por socorro e liberdade.
Foi nesse momento que percebeu um garoto de terno preto e estatura mediana. O cabelo castanho escuro jogado para o lado e com um sorriso nos lábios. Olhava para ela, diretamente para ela. Rafa? Esse era o Rafael?
Constrangida, fingiu arrumar uma mecha de cabelo atrás da orelha, onde passou por sua cicatriz. A cicatriz de quando caíra da macieira marcou para sempre sua maçã do rosto. A cicatriz de seu coração. A correntinha que herdara de seu bisavô. Tudo isso era ela. Ela é o passado em forma sólida e não queria mudar nada. Os erros traziam aprendizado, o que de certa forma trazia felicidade.
A mensagem do filme “As vantagens de ser invisível” lhe veio à mente: não escolhemos de onde saímos, mas escolhemos para onde iremos. 
O único jeito de mudar o passado é aceitando o presente. E mudando o presente que um dia será nosso passado. Tudo está no jeito como você enxerga as coisas. E ela enxergava o infinito.
Decidiu sorrir de volta.

E finalmente encontrou a chave de sua prisão particular. 

(Audrey Tamy para DDQ, concurso) 
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Oi gente, tudo bem? Como prometido, aqui está um conto (mas estou pensando em deixá-lo maior, com mais detalhes, o que acham?). Cara, obrigada por vocês comentarem, vocês são incríveis, sério <3 p="">
Deixa eu perguntar uma coisa... 
Vocês gostam disso? Das crônicas e contos? Senão eu nem posto mais hehe. Ah, eu estou pensando em criar um blog pessoal, o que acham?
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Beijos, 
Audrey. 

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