26 de out. de 2013

Drummer Girl - capítulo 2

(...)
- Summer!  - pensei em me virar, porém não deveria ser comigo. Aqui ninguém deve saber quem sou...
Tudo bem, a quem eu estou tentando enganar? Quase quebrei meu pescoço assim que ouvi meu nome, avistei um garoto correndo em minha direção e balançando um papel rosa.
- Summer! – parou ofegante na minha frente.
- Oi? – respondi confusa.
- É esse seu nome, né? Não é Spring ou Winter...? – perguntou sério e depois riu.
Corei um pouco. Sempre tive insegurança em relação ao meu nome. Eu amo chocolate e nem por isso vou colocar o nome do meu futuro filho de “chocolat”! Quero dizer, minha mãe AMA o Verão e por isso colocou esse nome em mim. Vai entender...
- Summer. – estendi a mão. – Summer De La Rue.
- Summer... – refletiu um pouco - Legal o nome. – não entendi se ele estava me zoando ou se estava falando sério, portanto fiquei quieta.
- Summer – disse ele – você é tudo que eu preciso!
Ri tanto que minha barriga começou a doer. Se isso não é uma piada, eu não sei o que é. Quero dizer, ele é fofo!
- Não! – ele estava corado! Dá para acreditar? – Não foi isso que eu quis dizer.
- Sem problemas... – deixei a frase morrer. Nem sabia o nome dele.
- Chaz. – disse completando a frase.
- Sem problemas Chaz. - sorri.
- É só que... Eu faço parte de uma banda. – Chaz parou subitamente e eu gesticulei com as mãos para que ele prosseguisse. – E nosso baterista, Luke, foi para a Austrália. Nós estamos sem baterista e... – ele hesitou em continuar, como se já tivesse falado demais – É uma longa história. Lê isso, acho que é melhor. – me entregou o papel rosa que carregava com ele.
Li com atenção. Dizia que era um teste para baterista de uma banda. Informava o local, a hora e tinha uma foto meio escura dos prováveis componentes da banda (sabia disso porque Chaz estava lá junto com mais dois garotos) e um ponto de interrogação na cara do quarto componente. No final da pequena leitura já estava quase pulando de tanta animação. Todos poderiam fazer o teste, porém eu fui convidada pessoalmente e isso me fez ficar animada. Muito animada. Tocar em uma banda seria bom. Apesar de tudo.
- Só queria ter certeza de que você vai. Se você quiser, claro. É que você é... boa. – ele arregalou os olhos – Não foi isso que eu quis dizer. Quero dizer, você é boa na bateria, entende?! – ri com tamanho desespero. Eu havia entendido.
- Acho que vou sim.
- Tudo bem. – sorriu.
Logo o sinal para voltar às aulas tocou, e Chaz passou o braço em volta do meu ombro como se fôssemos velhos amigos. E daqui a alguns anos, tenho a sensação de que seremos.
(...)
- Ela é uma megera mesmo. – reclamou Chaz, bufando logo em seguida.
Deixe-me explicar a situação: fomos mandados para fora da classe. No meu primeiro dia aqui.
- Pelo menos veja pelo lado bom. – falei tentando ser um pouco positiva.
- Qual? – indagou Chaz.
- Não vamos assistir aula de História. – sorri, e então me veio à mente a imagem da minha mãe me dando o maior sermão. Gelei.
- É... – pensou um pouco – Peraí! Nós estamos sendo beneficiados por fazer bagunça?
- Nós? – perguntei rindo me lembrando da cena – Acho que era você que estava dançando em cima de uma mesa enquanto a professora não vinha. Como era o nome da dança mesmo?
- Funk. Achei na internet esses dias. – deu de ombros. – Mas ninguém mandou você ter uma crise de riso, ou sei lá, fazer cover de uma hiena.
- É. – concordei. – Mas agora me explica: por que raios você estava dançando aquilo?
- Me desafiaram. – respondeu como se fosse óbvio.
- E...
- Summer – sacudiu meus ombros – em que planeta você vive?! Quando te desafiam, você tem que fazer. É meio que uma questão de honra.
- Você se ferrou por causa disso. – lembrei-o.
- O negócio é o seguinte: se você não quiser ficar conhecido como um frouxo, você faz o desafio. E dane-se as consequências.
- Então ta né. – murmurei.
Ficamos fitando o vazio a nossa frente. Geralmente nesses momentos eu penso em tudo. Faço uma reflexão geral da minha vida. Mas hoje foi diferente. O negócio da banda não saía da minha cabeça.
- Quando que é o teste mesmo?
- O quê?
- O teste da banda. – repeti.
- Ah. Amanhã.
- Você vai ter que me levar.
- Você não tem carro?
- Não.
- Mas você tem um iPhone. – ri.
- E o que isso tem haver?
- Com o dinheiro dava para comprar um carro! – ri pelo nariz.
Minha mãe parece ter medo que eu dirija, não sei ao certo. Ela não me deixou tirar carta quando tinha 16 anos, mas prometeu que esse ano vai deixar. Ela acha que estou mais madura, mais responsável. Coisas de mãe. Ou pelo menos, coisas da minha mãe.
- É sério Chaz. Eu não tenho como ir, nem deu tempo de conhecer o bairro direito. Não faço a mínima ideia do local dos testes.
- Eu te levo. – suspirou entediado.
- Seu bobo. Você ama minha companhia.
- Tanto faz. – disse ele dando de ombros em seguida. Isso lhe rendeu um soco, mas releve.
Ficamos conversando até dar a hora da saída. Me despedi do Chaz com um sorriso no rosto.
Meu primeiro dia foi melhor do que eu imaginava, com toda a certeza.

(...) 

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