Gostaria de entender que raios está acontecendo comigo. Meu
estomago anda estranho, eu olho para ele e sinto uma felicidade crescer dentro
de mim, minhas mãos tremem, minhas pernas vacilam. Ele é meu melhor amigo, isso
não deveria estar acontecendo, ou deveria? Meu Deus eu não sei de mais nada. Eu
penso nele e penso em por que eu o beijei naquela noite. Já se passaram três
dias desde o feriado e eu não falei com ele. Toda vez que penso naquele beijo
algo revira dentro de mim, e então eu penso “Caramba, eu beijei meu melhor
amigo”. Amanhã eu tenho que voltar a escola e falar com ele. Será que eu devia convidá-lo
pro baile de formatura? Ou será que ele vai me convidar? Desde aquele dia eu
ouço essas músicas melosas que passam na radio e penso que seria legal se ele
estivesse ali.
- Caramba Alice, para com isso - digo a mim mesma e me
deito. Espero por longos minutos, ainda pensando nele quando o sono me derruba.
Na manhã seguinte pulo da cama e nem espero o café, vou
direto para a escola. É a primeira vez em 17 anos que chego no horário.
Ele sempre chega no horário, mas não hoje. Espero por mais de quinze minutos
depois do toque do sinal e ele não chega. Longas e intermináveis, três
aulas se passam e ele não apareceu na aula de filosofia, a aula favorita dele.
Ando um pouco pelos lugares que ele sempre fica, mas não o acho. Sigo para um
aglomerado de pessoas em volta de uma mesa, todos conversam fervorosamente, mas
ele não está la. Chris me encara e acena me sento ao lado dele e só ouço as
conversas sobre o feriado maravilhoso de todos. Será que seria muito obvio se
eu perguntasse sobre ele? Eu precisava saber onde ele estava.
- Hum... Galera - todos param suas conversas e me encaram. Toda
aquela atenção me deixava desconfortável. - Alguém sabe onde o Justin
está? Eu não o vi hoje em lugar nenhum - todos se entre olham e eu sei que
estão me escondendo algo
- Ele não te contou? - indaga Ryan com certo receio
- Contou o que? - o que ele não me contou? Nós éramos
melhores amigos, sempre contamos tudo um para o outro.
- Ali, é melhor você passar na casa do Justin pra vocês
conversarem - diz Chaz cauteloso, e eu sei que algo nada bom vem por ai. Não
digo mais nada apenas assinto com a cabeça e me levanto. Pego o celular e ligo
para meu pai a caminho da diretoria.
- Pai preciso de um favor. Eu preciso que ligue na
diretoria da escola e diga que você me libera para sair da escola agora. - ele
limpa a garganta e eu sei que ele está sorrindo
- Por que Ali? - ele pergunta em seu tom doce e gentil
- Eu preciso ir a casa do Justin falar com ele sobre o que
aconteceu. E eu não posso esperar. - ele se cala do outro lado - Por favor,
pai, eu prometo que nunca mais peço isso - ele ri fraco do outro lado.
- Tudo bem, eu ligo - sorrio e dou um leve pulo.
- Obrigada Pai, Tchau - desligo o telefone e subo até o
andar da diretoria. Quando termino de subir as escadas, Martha, a diretora esta
vindo com um papel em mãos.
- Novamente conseguiu o que quer - ela sorri e eu pego o
papel de sua mão
- Obrigada, te vejo amanhã - sem pensar muito, eu corro. Eu
não sei exatamente o que pretendo fazer quando chegar a casa dele, não sei qual
vai ser a reação dele, nem nada disso e não faço idéia do que ele tem para me
falar. Quanto mais perto chego, mais aumenta aquela sensação estranha no
estomago. Quando paro em frente a casa dele é impossível não sorrir.
Subo os degraus da entrada dois a dois. Agora com a porta a minha frente,
minhas mãos tremem tanto que é difícil acertar o botão
da campainha, mas eu o acerto, e não passa tanto tempo até que Pattie abra
a porta sorrindo.
- Olá Ali - ela me abraça e eu retribuo
- Desculpe não falar hoje Pattie, mas Justin está ai? -
sinto o nervosismo em cada ponto do meu corpo.
- Está la em cima, pode subir - meu corpo me diz para
correr, mas eu ando devagar, arrumo um pouco o cabelo, ajeito a blusa e largo a
mochila na beira da escada. Subo um pouco mais rápido e sigo para
o quarto no fim do corredor. Minhas mãos estão absurdamente geladas, eu
tenho um sorriso maior que meu rosto, mas ele se desmancha assim que abro a
porta. Varias caixas fechadas se encontram por todo o canto, e Justin está
guardando um porta retrato em outra caixa. Ele se vira e sorri fraco para mim.
Eu ando e observo o quarto quase vazio
- Justin, o que esta acontecendo? - pergunto andando até
onde ele está.
- Ali, desculpe por não contar antes - espero que ele
continue, mas isso não acontece.
- Não contar o que? - tento não parecer desesperada, mas
acho que falho.
- Eu vou para Los Angeles - ele coça a nuca e eu fico
parada, até a ficha cair
- Você quer dizer morar em Los Angeles? - ele assente
- Eu consegui um contrato com uma gravadora por lá. Eles
viram aquele programa de talentos que eu participei e disseram que gostaram
muito de mim - ele sorri radiante e eu sinto uma grande vontade de gritar e
chorar, mas não fiz nem um nem outro, apenas me aproximo dele e o abraço
fortemente.
- Isso é ótimo - suas mãos envolveram minha cintura e me
ergueram. Tudo que eu mais quero é guardar aquele momento, por isso me permito
sentir seu cheiro e guardar o máximo de detalhes dele. Ele me coloca novamente
no chão e eu me afasto para poder vê-lo melhor. Seus olhos dourados, seu cabelo
louro, suas tatuagens, seu sorriso. Guardo tudo e prometo a mim mesma não
esquecer aquela imagem.
- Quando você vai? - pergunto depois de muito tempo em
silêncio.
- Hoje a noite - não estou surpresa. Encaro a caixa e vejo
a fotografia que ele havia guardado. Eu adorava aquela fotografia. Eu estava
nas costas dele durante a minha festa de 16 anos com a língua para fora e ele
gargalha.
- Essa é a minha foto favorita - declara ele apoiando o
queixo em meu ombro. Seu rosto a milímetros do meu.
- É a minha também - sorrio e me lembro como estava feliz
naquele dia. Era uma festa surpresa. Justin me levou para um parque de
diversões como presente de aniversario. Quando chegamos em casa ele me levou
até o jardim e todos estavam lá. Depois que todos foram embora Justin e eu
ficamos no telhado conversando sobre coisas aleatórias, lembrando da infância,
e olhando o céu. Encaro novamente o quarto cheio de caixas e meus olhos se
enchem de lagrimas.
- Vou sentir sua falta Drew - digo baixo e ele fica na
minha frente. Ele me abraça e afaga meus cabelos.
- Também vou sentir sua falta Honey- sorri. Só ele me
chamava de Honey e só eu o chama de Drew. Eu sempre o proibi de me chamar de
Honey, mas depois de muita teimosia dele, eu apenas aceitei e comecei a proibir
que outras pessoas me chamassem assim.
- Quer ajuda com o resto das coisas? - ele sorri e assente.
[...]
Nunca gostei de aeroportos, eles me faziam lembrar aqueles
filmes onde as pessoas se despedem e nunca mais se vêem de novo. E agora eu
estava esperando o vôo de Justin. Será que eu o veria de novo? Ou será que ele
ficaria tão famoso que não teria tempo para me ver?
Durante o tempo que paramos de falar eu imaginei mil jeitos
de fazê-lo desistir da viagem, mas desistia das idéias logo em seguida. Pensei
em dizer a ele o que sentia, mas e se ele ficasse? Ele perderia toda uma longa
e feliz vida como cantor. Todas as idéias do mundo passaram pela minha cabeça,
todos os pensamentos sobre o futuro se materializaram na minha mente, todas as
palavras me passaram na frente dos olhos. Mas nada foi revelado a Justin.
- Ei - ele chamou minha atenção e eu o encarei meio
desorientada. - Tire uma foto comigo - ele ergueu o celular e eu sorri. Joguei
o cabelo para o lado e olhei para a câmera. Sorri e ele também. Depois ambos
fizemos uma careta e ele tirou outra foto. Gargalhamos. Ele abriu a foto e me
encarou. Seus lábios a centímetros dos meus.
- Temos uma segunda favorita? - perguntou ele sorrindo.
- Sim - ri fraco e encarei seus lábios. Afastei-me e prendi
o cabelo.
Passageiros do vôo 3757 favor comparecer ao portão de
embarque 2
Encarei Justin e ele sorriu fraco de canto
- Chegou a hora - declarou ele se levantando, me levantei
também e o abracei, ele passou seus braços em volta de minha cintura e me
abraçou fortemente. Não consegui dizer nada, apenas chorar. Depois de longos
minutos o abraçando, me afastei dele e tirei meu colar.
- Quero que fique com isso - Era um colar antigo que meu
avô havia me dado de presente. Uma ancora presa em um colar de couro. Coloquei
em seu pescoço e ele sorriu. - Caso algum dia esteja em crise, e sinta que você
não é mais você, isso vai te ajudar a lembrar de onde veio e quem você é - ele
segura o pingente como se fosse um amuleto e sorri largamente. O encaro pela
milésima vez naquele dia. Caminhamos lado a lado até o portão de embarque.
Abraço Pattie e digo a ela o quando sentirei sua falta, então ela encara Justin
e se vai. Olho para Justin e a ultima idéia de contar a ele o que sinto passa
tão rapidamente quanto chega.
- Você sempre será o meu melhor amigo, trouxa - digo só
para que ele ouça
- Você sempre será minha melhor amiga, idiota - gargalho e
ele me acompanha, ouço o som de sua risada atentamente tentando guardá-la
- Eu amo você Drew - ele parece um pouco surpreso (eu
também estou), mas sorri. Não sei exatamente qual o foi o sentido daquela frase
(amor de amigos ou amor de amor), mas sei que o amo.
- Eu amo você Honey - aquelas palavras enchem meu coração,
eu não me apego a nenhum sentido daquela frase, me apego somente ao fato de ele
me amar.
- Honey, não me bata - ele declara, eu o encaro confusa
- Por que eu te...? - ele me puxa para si e me beija. Um
beijo calmo, mas intenso. De repente as pessoas pareceram sumir e o mundo girou
mais devagar só para nós dois, borboletas explodiram em meu estomago e eu me
senti grata por aquele momento. Somente uma coisa se passa na minha cabeça
"O melhor beijo da minha vida foi com meu melhor amigo" Nos
afastamos e eu sorrio para ele e o abraço rapidamente.
- Agora você pode ir - digo e ele gargalha
- Tchau Ali - ele me da um selinho e se vira caminhando até
o portão de embarque. Eu espero até que ele suma no próximo corredor.
- Tchau Justin - sussurro e me viro para ir embora.
Não sei o que o futuro está guardando para mim e para
Justin. Pode ser que seja bom, pode se que não, mas eu não quero tentar
adivinhar. Quero apenas ser surpreendida.
Meu celular vibra com uma mensagem de Justin
"Quase me esqueci. Toma ai a nossa segunda foto
favorita =P
Ps: Eu vou voltar. Isso é uma promessa
Abri o anexo e a foto que havíamos tirado há pouco tempo
apareceu.
Naquele momento eu percebo, que não importa o que
acontecera nas nossas vidas daqui pra frente, não importa aonde nós vamos, não
importa quantas milhas de distancia existam entre nós. Nós sempre seremos
melhores amigos e sempre teremos um ao outro. E eu sou imensamente grata por
isso.
Este é o fim de um começo